De acordo com os pesquisadores umbandistas da chamada Escola de Síntese ou Umbanda Iniciática, cuja maior influência vem do escritor e sacerdote W.W. da Matta e Silva, a origem do Aumbandan remonta aos tempos da Lemúria, continente correspondente às Américas e a África. No Brasil, corresponde à uma área que abrangeria o Planalto Central, constituído por Amazonas, Mato Grosso e Goiás, e é exatamente onde foi redescoberta o Aumbandan, que era considerada a Religião-primeva, composta pelos quatro pilares do conhecimento humano (Arte, Filosofia, Ciência e Religião), a tradição da pura raça vermelha. Nos foi revelada por seres evoluidíssimos, a maioria oriunda de outras pátrias siderais, destinados a reencarnar em nosso planeta com a missão de trazer o aprendizado perdido no tempo.
A civilização que sucedeu a lemuriana foi a atlante, também citada por conceituados autores espiritualistas. Os atlantes eram poderosos, mas, por vários motivos, entre eles o egoísmo e a ambição, a tradição-una começou a ser fragmentada e deturpada. Era, na época, a única Religião-Ciência da humanidade. Ao fragmentar-se, daria origem às religiões, filosofias, ciências e artes de todos os tempos. É por isso que muitos dizem que a Umbanda é uma mistura de religiões. Na verdade, de acordo com estes conceitos esotéricos das escolas iniciáticas, todas as outras religiões teriam surgido, ao longo dos milênios, a partir da fragmentação do Aumbandan, que ocorreu em plena Atlântida. Portanto, tanto na Lemúria quanto na Atlântida, o Aumbandan era o Conhecimento-uno, transmitido a todos pela pura raça vermelha, a primeira raça a habitar o planeta Terra.
Entre os séculos XVI e XIX muitos acontecimentos se deram para resgatar essa mesma tradição. Por volta de 1888 e 1889, devido a esses acontecimentos e mudanças, que vão de sócio-econômicos, políticos e até culturais, o Plano Espiritual começa a imprimir mudanças nos cultos miscigenados que existiam no Brasil desde os tempos das senzalas. Muitos cultos, considerados afros, começaram a sofrer alterações nos seus rituais. Ocorreram as primeiras manifestações de índios como caboclos e negros africanos como pretos velhos. Foi nesta época que ocorreram algumas manifestações do caboclo Curugussú, que todas as vezes que “baixava” dizia ter vindo trazer a Umbanda. Isso começou a acontecer tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. Além de dizer que vinha trazer a Umbanda, ele dizia ser emissário da pura raça vermelha, ou seja, os caboclos missionários que coordenam o movimento umbandista atual, dos planos superiores, não são os índios que Cabral encontrou ao chegar no Brasil, muito menos os atuais remanescentes das tribos indígenas brasileiras, mas espíritos muito evoluídos da antiga raça vermelha, que habitou a terra do Cruzeiro do Sul há milênios.
A codificação de Kardec
No século XIX, na França, surge Allan Kardec, pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, e que propõe, com o apoio de outros missionários, uma codificação de ensinamentos espiritualistas universais – conhecida como a doutrina espírita – mais um caminho usado pelo plano espiritual superior para combater o materialismo crescente no mundo ocidental, pós-iluminista, já que na época, o catolicismo e o protestantismo passavam por uma grande crise. Uma das propostas da doutrina codificada por Kardec é a de restaurar o Cristianismo primitivo, sem as deturpações que ocorreram ao longo dos milênios. Além de tudo, a doutrina espírita também propõe um conhecimento uno, no caso, sob o tripé Ciência, Filosofia e Religião.
A doutrina espírita chegou ao Brasil Império trazida por intelectuais, homeopatas e maçons, mas é importante ficar claro que, mesmo antes da codificação kardequiana, as manifestações mediúnicas, que são naturais e independem de qualquer religião ou doutrina, já ocorriam desde os primórdios da história da humanidade.
Surge a Umbanda
Oficialmente, reconhece-se o dia 15 de novembro de 1908 como sendo a data do surgimento da Umbanda. Neste dia, no Rio de Janeiro, um menino de 17 anos de idade, chamado Zélio Fernandino de Morais, levado a um grupo espírita para se tratar de um “problema” espiritual, incorporou uma entidade que foi altamente repreendida pelo dirigente do trabalho. O espírito disse, então, que no dia seguinte, exatamente em 16 de novembro, “baixaria” na casa de seu “aparelho” (o jovem Zélio), e neste local não haveria nenhuma forma de discriminação. Pobres e ricos, negros, brancos e caboclos poderiam “baixar”, e esse ritual se chamaria Umbanda. E assim foi feito.
Perguntado o nome desta entidade, a mesma disse: “Se é necessário dar um nome, esse será Caboclo das 7 Encruzilhadas, pois para mim não haverá caminhos fechados.”. Resumidamente, assim teria ocorrido a anunciação, oficial, da Umbanda, de acordo com os pesquisadores umbandistas.
Zélio se dedicou de corpo e alma a desenvolver o trabalho orientado pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, e que teve por seus auxiliares o Caboclo Orixá Male e Pai Antonio. Estava assim fundada a Umbanda no Brasil.
O Caboclo das 7 Encruzilhadas, através de Zélio de Moraes, fundou a Tenda Nossa Senhora da Piedade, que foi raiz para outros sete principais núcleos: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge, Tenda Espírita São Jerônimo.
Mesmo tendo como núcleo principal a Tenda Nossa Senhora da Piedade, essas mesmas Tendas não seguiram totalmente o modelo exposto pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas. Somente a filha de Zélio, mãe Zilméia, ainda segue fielmente os conceitos que a priori foram estabelecidos por lá.
Dentro das escolas de tradição de síntese, iniciáticas, costuma-se dividir, por uma questão didática, a história do movimento umbandista em quatro fases:
1ª Fase: No Século XIX, surge o Caboclo Curugussú, da linha de Ogum, que durante 9 anos, com uma imensa plêiade de emissários espirituais, veio lançando o termo Umbanda, conhecido apenas pelos indígenas como macauam ou anauam, como formas de velar o sagrado Aumbandan.
Além da mediunização em uma pessoa, houve neste período uma completa higienização mental e espiritual dentro dos cultos afro-brasileiros – fazendo um verdadeiro saneamento e preparação do advento para o Caboclo das 7 Encruzilhadas.
2ª Fase: O Caboclo das 7 Encruzilhadas, através do médium Zélio de Morais, trouxe o primeiro templo umbandista organizado, onde seria reimplantado o termo Umbanda e um ritual completamente diferente dos existentes.
3ª Fase: Desencarna, em 1975, Zélio Fernandino de Morais, e o Caboclo das 7 Encruzilhadas prepara o advento de Pai Guiné, através do médium W. W. da Matta e Silva, para dar continuidade ao trabalho.
Woodrow Wilson da Matta e Silva (conhecido como Pai Matta) nasceu em 28 de junho de 1917, e desencarnou em 17 de abril de 1988.
Sempre procurou solidificar e dar um novo direcionamento ao movimento umbandista, pois era um grande pesquisador e mestre iniciado no Astral.
Seu primeiro livro já expõe os conceitos sobre o Aumbandan, depois de muitas pesquisas. Também fala de épocas remotas da Lemúria e da Atlântida, solidificando os ensinamentos da chamada Umbanda esotérica.
4ª Fase: A atual. Nesta quarta fase, somos regidos por Ogum, que pretende, dentro do menor espaço de tempo possível, abarcar o maior número de pessoas. É o chamamento para a Nova Era – representado pelos Clarins de Ogum.
A manifestação dos guias
Os mentores espirituais, quando “baixam” no terreiro, fazem-no através de três formas básicas, arquetípicas, de apresentação. Essas três formas são as de caboclo, preto-velho e criança. Todos os mentores espirituais de nossa Umbanda, como seres espirituais desencarnados, podem transformar ou modificar o corpo astral (também conhecido como perispírito, psicossoma etc), segundo suas vontades. É devido a essa transformação ou modificação do corpo astral que muitas entidades que baixam em nossos terreiros se apresentam como caboclos (índios), pretos velhos e crianças. Com isto, estamos afirmando que toda Entidade que “baixa” na Umbanda, de acordo com a Tradição de Síntese, ou é “caboclo”, ou é “preto-velho” ou é “criança”. Além deles, temos os exus e pombas giras, serventia desses orixás menores.
Na grande maioria dos templos umbandistas, mais populares, encontramos entidades que se manifestam através de outras roupagens fluídicas, sustentando egrégoras afins, tais como a linha dos baianos, boiadeiros, marinheiros, ciganos e a linha do Oriente. Na verdade, são sub-planos dentro da hierarquia umbandista, falanges de espíritos que atuam em nome dos orixás menores: criança, caboclo e preto velho.
Existem espíritos que se apresentam dentro da linha (egrégora) dos caboclos, mas isso não significa que tenham sido índios na última encarnação ou que mantenham essa forma o tempo todo. O mesmo acontece com as outras linhas, como na dos pretos velhos e das crianças. Às vezes ocorre, por exemplo, de um espírito que se apresenta como preto velho, ter sido, em sua última encarnação, um monge beneditino, franciscano, budista... O que importa, neste caso, é a egrégora, a linha de trabalho que ele representa. Fica claro, portanto, que as entidades que atuam na linha das crianças também não são criancinhas recém-desencarnadas...
Por outro lado, há espíritos que não necessitam modificar a aparência de seu corpo astral, pois mantém a “roupagem” de quando estiveram encarnados como índios e pretos velhos.
As três formas de apresentação representam:
Caboclo – A simplicidade, a fortaleza
Preto velho – A humildade, a sabedoria
Criança – A pureza, o amor
Representam também as quatro raças:
Caboclo – Raça vermelha.
Preto velho – Raça negra e amarela.
Criança – Raças vermelha, amarela, negra e branca.
Para encerrar esta pequena introdução aos conceitos da Raiz de Guiné, queremos deixar claro que, acima de tudo, a Umbanda é uma só. Nosso movimento umbandista é como uma colcha de retalhos, onde cada pedaço dá cor e forma ao todo. Não podemos desrespeitar nenhuma forma de se ritualizar e comungar com o Sagrado. Também não temos a pretensão de impor estes conceitos a ninguém. A Umbanda é uma religião brasileira, a única no mundo que não tem um fundador ou codificador, e por isso, seus conceitos são universais. Cabe aos próprios umbandistas separarem o “joio do trigo”, com fé raciocinada e amor no coração, nesta longa jornada da evolução.
Texto publicado na Revista Caminho Espiritual - edição 06 - Umbanda e sua doutrina sagrada.