Na formação étnica brasileira, três raças a criaram. O Índio, o branco e o Negro. Dessas, duas eram povos naturais. O ÍNDIO e o NEGRO. O branco que aqui chegou, já trazia as mazelas de degradação de uma raça.
Etnologicamente, com relação à cultura espiritual, parece-nos que o ÍNDIO mais se aproximava da pureza da magia das forças da Natureza, do que o NEGRO. Praticando-a em sua essência primitiva, sem, contudo, ter uma coordenação que a direcionasse para o seu uso num âmbito social. O NEGRO possuía uma civilização mais organizada e maior evolução cultural.
O NEGRO já manipulava a magia do culto aos ORIXAS que representa o magnetismo das forças que compõem a Natureza.
Sendo a UMBANDA praticada pelo mediunismo, e a mediunidade não ser privilégio exclusivo de quem quer que seja, havia na civilização NEGRA médiuns, verdadeiros Magos, que manipulavam as forças da Natureza de forma extraordinária. Lamentamos que os fatos registrados em nosso meio não tenham sido registrados de maneira documentável, por preconceito religioso predominante na época e pelo “pavor” dos que testemunharam, porque não sabiam explicar o ocorrido. Comentários, só entre pessoas em que depositavam muita confiança.
Os senhores, sinhás e sinhazinhas que receberam os benefícios das mandingas dos bons PRETOS e das boas PRETAS VELHOS, reconheciam, mas não divulgavam com receio da inquisição. Os que, , muitas vezes na mesma intensidade de seus atos, por motivos óbvios, e por temor que a “maldição” se perpetuasse, silenciavam.
Apesar da humilhação e atrocidades que impingimosaos nossos IRMÃOS NEGROS, eles nos deixaram uma lição de humildade e estoicismo digno da grandeza de uma raça. Na região em que nascemos, uma das mais escravocrata do país, nunca ouvimos comentários de crimes hediondos praticados pelos negros contra seus algozes.
Quando eles fugiam, se direcionavam para os Quilombos em busca de liberdade. Não formaram grupelhos de assaltantes.
Procuraram auxílio dos brancos engajados na causa Abolicionista para conseguir a sua alforria que, para remir a nossa raça branca, tivemos muitos que combateram em socorro dos seus Irmãos Negros. Em Recife, Pernambuco, na margem do rio Capibaribe, existe um local chamado de "Poço da Panela”, onde residia o grande tribuno do fim do século passado, José Mariano, que acolhia os negros fugidios e, às altas horas da noite, os embarcavam nas barcaças que transportavam capim para ração animal, escondendo-os embaixo da carga, que os levavam aos navios, na barra, com destino ao Ceará, onde já havia abolido a escravidão .
O movimento libertário da Raça Negra era pacífico, entre os seus componentes, não por acomodação, mas pela fé inabalável na proteção de seus Orixás.
Inconformada e sensibilizada, uma parcela de seus Irmãos Brancos lutou, ai sim, com agressividade, pela liberdade de seus Irmãos Escravos, demonstrando evolução de princípios, denodo e desprendimento.
Os IRMÃOS NEGROS tinham muita religiosidade e eram extremamente fieis aos conceitos religiosos de seus antepassados. Na presença de um Preto Velho, estávamos diante de um enigma. Na sua postura de respeito, afabilidade, havia, ao mesmo tempo, um analista da personalidade humana que, apenas para o seu governo, deduzia qual relacionamento o seu interlocutor era merecedor. Quando a pessoa era confiável, lhe dedicava, desinteressadamente, uma fidelidade impar. Muitos senhores depositaram sob a responsabilidade dos Irmãos Negros a guarda e o zelo de seu patrimônio, até a integridade de sua família, e eles cumpriam a missão com dedicação.
Quando havia um caso de doença na família de seu senhor, eles, após a labuta do eito, onde eram impiedosamente explorados, tinham magnitude de, no culto aos seus Orixás, implorarem pelo pronto restabelecimento do enfermo. Por vezes, faziam as suas mandingas, e com a maior discrição, procuravam a Sinhá, que era mais receptível, para dar curso aos trabalhos. Tudo isso realizado, esotericamente, em seus Sítios ou no recinto da Senzala, com todo cuidado para não serem surpreendidos, a fim de evitar a fúria reacionária dos mentores religiosos de seus senhores, que induziam o combate a essa prática, de amor ao próximo, com rigor. Quando descobertos, lá iam os Pretos Velhos, ao tronco, receber as chibatadas pela ousadia de contrariarem os “donos da verdade” e mercadores das graças divinas. As Sinhás nada podiam fazer em seu favor, pois eram cúmplices. Na sua dor, pela injustiça perpetrada e desiludida dos conceitos que lhes eram impostos, surgiam almas convertidas aos ensinamentos do Pai, as das Sinhás... Com a resignação aos desígnios do Pai e na prática do amor ao próximo, a RAÇA NEGRA moldou, no surgimento da sociedade brasileira, os alicerces de um povo amante da Paz e de muita religiosidade.
O sincretismo de seus Orixás com os Santos Católicos foi uma inspiração sublime.
Na época, harmonizou o seu culto ao dos seus inquisidores, conseguindo, assim, nas pessoas mais sensíveis, a simpatia para a sua fé e, pela tradição, essa simpatia chegou aos dias atuais, o que justifica a adesão, cada vez maior, dos participantes de nossa QUERIDA UMBANDA. Ela, a RAÇA NEGRA, semeou os princípios filosófico-religiosos da UMBANDA.
www.choupanadocaboclopery.blogspot.com
One Comment
Seu blog, está muito bonito...parabéns por acreditar em nossa querida Umbanda sagrada.
Axé