Pegando carona num parágrafo do Anjo em outro tópico (abaixo) e do assunto que estava correndo sobre "sujeira exposta na mídia", lembrei de uma matéria que tinha lido há algum tempo no G1 e que trago a seguir. Sublinhados e cores são destaques meus, negritos são destaques da própria matéria.
O post:
Isto não é fato que passou a ocorrer somente nos dias de hoje,ao contrário vem de longuíssima data, porém a internet massificou a disseminação dos absurdos e isto só veio à piorar a situação da Umbanda.. Enquanto 10 vem à público mostrar a face iluminada da Umbanda surgem 1000 para espalharem bobagens sem tamanho que só servem para denegrir a Umbanda .
A matéria:
'Terreiros virtuais' prometem trazer pessoa amada - pela web.
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Pais e mães-de-santo estão atendendo clientes por e-mail ou programas de conversação.
Presidente da União Umbandista faz alerta para ter cuidado com charlatões na internet.
Dório Victor
Do G1, no Rio
Pais e mães-de-santo, como são conhecidos popularmente os babalorixás e ialorixás, estão oferecendo consultas e serviços à distância por sites, e-mails ou programas de conversação online.
Formada em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Iracema Gomes dos Santos, 33 anos, mais conhecida como Mãe Cema de Oyá, ou Cema de Mulambo, tem uma roça de orixás (mais conhecido como “terreiro”) em Bangu, Zona Oeste do Rio, e há pouco tempo começou a atender pela internet.
Com site e blog, Mãe Cema tem clientes de vários estados como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Norte e também de Portugal e da Itália. As orientações dos trabalhos espíritas são passadas por e-mail, ou, muitas vezes, por programas de conversação online.
“Quando os trabalhos são mais fáceis, como os de amarração (aproximar a pessoa amada), é possível fazer pela internet. É só pegar algumas informações, como data e horário de nascimento, para poder realizar o trabalho. Mas se for algo mais complicado, como banhos de descarrego e sacudimentos, fica mais complicado. Esses só podem ser feitos diretamente com o cliente”, disse, ressaltando que a nação (seguimento) de candomblé que ela adota é a de Angola.
Para alguns, internet é sem retorno
Muitos pais-de-santo que investiram na internet não conseguiram ampliar o leque de atuação, como é o caso de Nelson de Azanssun, 60 anos.
“Investi cerca de R$ 2,5 mil para colocar meu site na internet, mas não tive nenhuma procura por e-mail. Atuo há mais de 48 anos, tenho clientes em vários estados e até de outros países, mas pela internet eu não consegui nenhum. Foi um investimento que não tive retorno”, disse.
Resposta só depois do depósito
Ao entrar em contato com o site de um centro espírita da Bahia se passando por uma pessoa com problemas, a reportagem do G1 recebeu o seguinte e-mail de resposta:
“Saudações ,
Você solicitou uma Consulta que será realizada por mim, auxiliada pelas entidades que regem a minha casa, será identificado o motivo do seu problema, o que realmente está acontecendo, e qual a solução definitiva ou temporária. O valor cobrado por este serviço é utilizado na manutenção do terreiro, o que é reconhecido e retribuído pelas entidades da casa.
DADOS PARA DEPÓSITO:
Banco XXXX
Conta Corrente: XXXXXX
O valor: R$ 20,00”
O e-mail diz ainda para entrar no site para informar os dados do depósito para facilitar a identificação do pagamento e o envio do resultado o trabalho.
Cuidado com os charlatões
Na internet, é possível encontrar sites de centros espíritas de todo o país. No entanto, charlatões de plantão também estão na rede mundial de computadores para pegar os internautas desesperados. Como o pagamento do trabalho geralmente é adiantado (feito na maior parte das vezes por depósito bancário), muitos charlatões prometem milagres, mas, na hora da reza, somem com dinheiro.
O presidente da União Umbandista dos Cultos Afro-Brasileiros (UUCAB), João Luiz Magalhães, esclarece os riscos que o internauta corre ao solicitar uma consulta ou um trabalho online.
“Uma consulta espírita é igual a uma consulta médica. O pai-de-santo terá mais informações se a consulta ou trabalho for feito pessoalmente. O mesmo acontece com um médico, que pode consultar pelo telefone, mas pessoalmente ele poderá diagnosticar melhor os sintomas do enfermo”, orienta.
Magalhães ressalta também que, como em outras religiões, vários charlatões acabam se passando por pais-de-santo para tirar o dinheiro de quem espera resolver os seus problemas mundanos com preces e trabalhos espirituais.
“Tem que ter bom senso, pois não existe tabela de preços de trabalhos espíritas. É bom o interessado procurar uma indicação antes de pedir uma consulta ou um trabalho pela internet. Como em qualquer religião, existem charlatões que aguardam o momento certo para prejudicar pessoas inocentes”, disse.
O que temos no final?
Atividades altamente questionáveis, em se tratando de Umbanda, como comercialização (que falta faz Jesus expulsando os vendilhões do Templo ) religiosa, seja tendo hombridade de colocar claramente como "investimento", seja sob a fachada de "contribuição", que, se antes ainda eram um pouco mais restritas, agora se tornaram exponenciais. "Se todo mundo faz, pq não posso fazer tb?".
Ainda um pouco mais adiante, o autor da matéria, bem como do "presidente" da "UUCAB" (confesso que foi a primeira vez que ouvi falar nessa UUCAB e, ao que parece, não perdi nada), acabam por perpetuar coisas sem sentido com um certo argumento de autoridade: A matéria foi publicada no site de notícias da Globo. O entrevistado é PRESIDENTE da UNIÃO UMBANDISTA sei lá do que. Muita gente vai olhar e dizer "grande coisa". Mas a maioria vai acatar, assumindo que realmente sabem do que falam.
Pra piorar, uma péssima analogia. Qualquer um que tenha conversado pelo menos com um estudante de Medicina que seja competente sabe que "diagnóstico telefônico" é absurdo, superficial e altamente falho. Nota-se que o querido "presidente" entende tanto do assunto da "União" que preside quanto entende de Medicina.
Esse tipo de manifestação, que vem sendo cada vez mais corriqueiro, dada a popularização da internet, faz mais mal do que bem, independente do que os defensores do "cada um tem sua fé" possam sugerir.
Kardec, em um dos seus diálogos simulados, trouxe o seguinte trecho (que, no contexto, se referia aos críticos que desconhecem) que cabe aqui:
Seríeis a cada instante preso em flagrante delito de ignorância, porque aqueles que o estudaram, verão, conseqüentemente, que estais fora da questão; de onde se concluirá ou que não sois um homem sério ou que não sois de boa fé; em um e outro caso vos exporeis a receber desmentidos pouco lisonjeiros para vosso amor-próprio.
Enquanto isso, Mestre Moraes, em uma brilhante analogia, deixa bem claro o público-alvo desses indivíduos.
Deixei de preocupar-me ao analizar o que seria deles se, um dia, decidissem ser índio simplesmente por achar que assim conseguiriam um espaço em uma das várias reservas no Amazonas: travestido com um cocar, uma tanga e todos os estereótipos necessários para ser confundido com um índio. Com certeza estaria faltando alguma coisa cuja aquisição, o lugar onde consegui-la, só será de conhecimento de um índio de verdade. Na realidade, ele só conseguiria enganar aos seus iguais,ou seja: outros travestidos.
Onde quero chegar com isso?
Emmanuel, no livro "Estude e Viva", disse certa vez:
(...) Lembra-te deles, os quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a Doutrina Espírita lhes estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação.
O destaque é meu e, certamente, concordo com isso. Concordo tanto que acredito que, de certa forma, é igualmente válida para a Umbanda.
Mas, com certeza Emmanuel não se referiu a uma divulgação "de qualquer jeito", uma vez que exortou ao estudo antes de falar da divulgação.
Como é que nós, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, contribuímos para uma divulgação (não proselitismo) sadia da Umbanda? Ou melhor: como é que nós podemos contribuir para uma divulgação adequada?
André Souza