E descemos nós ao vale das sombras e tristezas da consciência humana... O cavalinho – projetor* seria a antena necessária para chegarmos e ajudarmos muitos espíritos paralisados e doentes no tempo. Logo que chegamos ao local, um casebre bem no meio de uma infindável escuridão, os espíritos amigos começaram a fazer - se presente auxiliando - nos ao préstimo da caridade e do auxílio extrafísico que ali ocorreria. Muito irmãos começaram a ser trazidos, e acoplado mediunicamente ao cavalinho - projetor, eu ministrava passes, "misturando" a minha energia com a dele, utilizando – se da energia mais densa dele para alcançar o corpo espiritual desses nossos irmãos mais necessitados*.... A verdade é que muitos e muitos espíritos fizeram - se presente, alguns viciados em drogas, outros suicidas e alguns ainda assassinos que apenas colhiam o seu próprio ódio em relação à vida. Todos que lá estavam, foram curados e levados a um hospital extrafísico, pelo qual nós estávamos trabalhando em conjunto nesse momento. O hospital chama - se Luz e Amor de Inaê* e tem como padroeira espiritual a nossa amada Mãe das águas, a encantadora Iemanjá... Estávamos quase terminando a assistência quando um homem de aparência velha e extremamente surrada se fez presente a nossa frente. Trajava roupas velhas, parecendo ainda roupas da fidalguia correspondente ao séc XVIII e começo do dezenove. Era barbudo e tinha muito sangue na face, trazendo mutilações terríveis na área genital e na mão direita... Estava totalmente louco e não conseguia falar “coisa com coisa”, apresentando um estado de dementação avançada. Com o começo da aplicação da energia e do ectoplasma do projetor - cavalinho para a reconstrução de seu corpo espiritual, eis que como num relâmpago sua consciência aumentou e ele por algum motivo que desconheço, pareceu me reconhecer e aos prantos pedia perdão. O cavalinho - projetor a nada entendia, enquanto eu, estava extremamente surpreso com a lembrança, daquele homem que a muitos e longos anos tinha cruzado o meu caminho.... A verdade é que o homem era um antigo senhor de engenho, que cometeu todos aqueles abusos que nós já estamos cansados e porque não tristes de saber. Ele agora voltaria a luz da alma através de um antigo negro, raça que ele tanto perseguiu e abusou. Mas tudo tem seu momento certo, e o dele tinha chegado. Por anos a fio guardei muita mágoa e ressentimento desse irmão, mas hoje já não mais o tinha. Quando eu vi sua face molhada, amarguradamente triste e arrependida, me lembrei em uma fração de segundos do dia em que triste, muito triste, isolei - me em uma praia na tentativa de fugir e esquecer do mundo. Quantas vezes nós não fazemos isso? Queremos simplesmente fugir e a tudo esquecer. E foi nessa praia que a minha linda Inaê apareceu e me disse que deveria perdoar e amparar aqueles que derrubavam meus irmãos, pois assim aprenderia o valor do amor e da fraternidade... E foi pensando nisso que uma prece a linda sereia do mar eu fiz em favor daquele irmão sofredor que há muito tempo tinha sido meu desafeto, mas a pouco, graças ao encanto da sereia eu tinha perdoado e agora resgatava de um buraco trevoso. E em certo momento de minha prece, um clarão azul índigo apareceu e a tudo iluminou naquele vale de desolação e tristeza... Era linda, parecia ter asas, era ela a minha querida Iemanjá - Inaê minha mãezinha... Ela veio e sorrindo tocou a minha fronte, sabia que estava contente por minha mudança de sentimento. Olhou aquele espírito que sofria como um filho com um amor maternal e imensurável nos olhos. O colocou em seus braços adormecendo - o suavemente. Então Ela a grande Mãezinha do meu coração virou - se e disse: _ Hoje você sabe o que é amor e o real sentido de perdoar. Hoje a Lei e Justiça de Deus venceram novamente e eu acolho um filho por amor do Criador. Hoje mais um dos filhos de Deus volta a sua casa, a luz da compaixão, perdão e amor. Graças ao seu coração puro e generoso a criação embelezou - se um pouco mais e uma consciência divina voltará a caminhar rumo ao Pai. Aprende filhos e filhas aqui reunidos que o sofrimento não é algo que Olorum espera de vós. Ele quer filhos divinos alegres e felizes. Aprende também que apenas o Amor e a Compaixão vencem. Aprende que a Justiça e a Lei Divina se impõe às vezes pela dor apenas para no final encontrar e despertar o Amor... E de Si uma intensa irradiação partiu, curando e recolhendo centenas e centenas de espíritos que viviam naquele umbral consciencial. Num clarão azul recolheu a todos e num piscar de olhos sumiu, levando a todos dali. Ainda a percebi em um último momento, dizendo: _ Obrigado filho da luz do meu coração por permitir que o perdão nascesse no mais íntimo do seu ser e manifestasse - se como o mais bonito presente que você poderia me dar... (Sepe, projeção mais intuição do pai Antônio! Abraços) Notas: Cavalinho – projetor*: Nome carinhoso pelo qual o preto – velho (da história) chama seu médium quando este encontra – se projetado em uma experiência de resgate extrafísico fora do corpo. (...)Necessitados*: O projetor devido ao cordão de prata apresenta energias e padrão vibratório mais denso, o que faz com que ele seja ótimo instrumento para o auxílio extrafísico. Além disso o ectoplasma, substância produzida apenas pelo espírito encarnado, bastante densa e muito importante em trabalhos como esse, é levado até o local onde está ocorrendo o resgate também através do cordão de prata. *Inaê: Um dos muitos nomes para Iemanjá. Mais utilizado pelos povos bantus. (Angolas e Congolenses)