A prática da matança de animais na religião é bastante complexa e merece uma análise apurada para que não ofenda os praticantes de alguns cultos que ainda estão envolvidos com esse ritual, tão antigo, como antigo é o mundo.
Em uma determinada passagem do Antigo Testamento, os judeus anunciam sacrificar cento e vinte e dois mil bois de uma só vez, ofertando-os à Jeová. Me parece esse um exagero da escrita da época, muito comum nesses escritos, entretanto, o certo é que, segundo, os praticantes dessa ritualística, Jeová exigia sacrifícios para si de ovelhas, carneiros e bois.
O interessante é que os judeus de hoje se horrorizariam com esse passado manchado de sangue, mas a evidência era essa. Os templos de então eram verdadeiros matadouros, ainda na época de Davi e Salomão.
Para que não sabe ou não atinou, o Jeová da época é o mesmo Deus que conhecemos hoje.
Os sacrifícios de sangue constituem, segundo recentes e apurados estudos, a estados muito primitivos da evolução humana. Também eram praticados na cultura maia, inca e asteca e por diversas outras tribos existentes no globo em diferentes épocas. Algumas povoações da Índia e da África conservaram essa tradição. Afirmam que acontecem verdadeiras calamidades, que os descampados pegam fogo, o gado morre, a água seca se a oferenda não for ofertada.
Todavia é sabido por indicação das elevadas entidades que estas jamais sancionaram essa prática sanguinolenta. Nenhuma divindade, seja ela um orixá, se compraz com a morte. O sangue só possui valor para a vida, portanto circulando nos seres, jamais para ser ofertado em um alguidar de barro.
Costuma-se justificar as passagens das Antigas Escrituras como pretexto para a prática atual, contudo devemos constatar que tais passagens pertenceram a um determinado período da evolução humana e como tudo muda, a visão do Deus colérico, maldoso, cheio de iras e rancores também mudou.
Não quero julgar os terreiros de umbanda e candomblé que ainda utilizam esse ritual, mas afirmo que a tendência é seja abolido, já que o orixá é um estado perfeito da natureza, um estado puro, portanto não tem corpo físico. Logo, todo esse sangue desperdiçado não lhe compraz e não lhe satisfaz, pois não é necessitado por ele.
As entidades de luz esperam que trabalhemos pelo ideal na umbanda de caridade e do amor ao próximo, conforme foi especificado pelo excelso Caboclo das Sete Encruzilhadas. Seu médium, Zélio de Moraes, nunca viveu da religião, seu caboclo mandava que devolvesse todos os presentes a ele destinados como cheques vultosos e outras honrarias materiais.
Lamentavelmente alguns terreiros, ditos de umbanda, fazem uso desses rituais sem tampouco saberem seus fundamentos, fazendo apenas por fazer, ou, o que é pior, para ganhos materiais de seus dirigentes. A umbanda é Jesus trabalhando, disse uma vez uma irmã, e como tal deve estar sempre inserida no ideal da caridade gratuita e do amor ao próximo respeitando a vida e preservando a sua existência como religião da natureza.
Os terreiros podem ter diversas e honestas fontes de renda como as mensalidades cobradas de seus médiuns e sócios, almoços beneficentes, rifas, doações espontâneas, bingos e vendas de livros e artigos de uso religioso.
Também precisamos ter em mente a intenção de estarmos em coadunação com o pensamento ecológico de preservação da vida e da natureza além de contruirmos a imagem de que nossa religião respeita esses princípios. Fora disso daremos munição para que as religiões neopentecostais nos ataquem chamando-nos de satânicos e desrespeitadores da vida. Como disse o renomado Armando Cavalcanti Bandeira na referendada, conceituada e histórica obra “O que é a umbanda”, infelizmente já esgotada:
a qual provém da da magia africanista milenar, e por força dessa influência há muito ainda impregnado de sua prática, escurecendo a leveza, o colorido e o perfume da suas obrigações rituais. Não se justificam os sacrifícios animais, que pelos seus fundamentos cabem nos cultos afro-brasileiros, pois são uma revivescência de ritos praticados na África de onde eles procedem. Na umbanda, que cada dia se vem integrando nos ensinamentos de Cristo, a tendência é aboli-los.”
André Luiz P. Nunes é professor, pesquisador e médium de umbanda.
One Comment
Realmente sacrificar animais para alguma Entidade é uma prática que tende a desaparecer com o tempo. Mas não nos esqueçamos que a grande maioria das religiões ainda são favoráveis a tais práticas visto que não se vê um trabalho de conscientização para o não consumo da carne de animais. Sei que muita gente que pegou o bonde andando pratica em seus terreiros, tais ritos, dizendo ser para Orixás. Na verdade estas pessoas não conhecem o Candomblé profundamente pq se não saberia que o sacrificio é feito para a alimentação do grupo e não para o Orixá. Que preferimos sacrificar o animal que será oferecido para que o Orixá o abençoe com seu axé e nos alimentaremos dele ao invés de comprar o animal abatido, não se sabe de que jeito, em abetedouros. Toda morte é agressiva e violenta, mas no Candomblé procuramos minimizar com rogativas e infusões e se mesmo assim o animal continuar agitado, será poupado